Se eu falar que estou com saudades, acredite.

Esses dias estou tentando encontrar inspiração para escrever, gostaria de algo suave com gosto de vinho doce que você bebe em um fim de tarde e que te faz querer beber até acabar a garrafa, mas acho que é meio difícil escrever algo não dramático, então pego um papel, uma caneta e começo a escrever uns rascunhos para tentar amenizar a solidão que é viver na escuridão do seu coração, pois não sei para onde vou e nem o que devo fazer. 

Sabe quando a gente sonha que se perdeu da mãe no supermercado e aquela sensação de solidão te domina e você não sabe o que fazer e nem para onde ir? É o que eu estou sentindo nesse momento, como se os meus pés estivessem grudados no chão e eu de repente tivesse esquecido como é andar sozinha, o desespero toma conta de tudo e eu só consigo ouvir as suas palavras que entram nos meus ouvidos e fazem um estrago enorme dentro de mim, como que pode um sarcasmo fazer um estrago tão grande?

Sabe quando você é criança e ganha um pirulito e ele cai no chão ou é tomado de você... Lembra da sensação? É horrível! Você não entende e se gritar você é rapidamente repreendido. Isso te traz traumas, você cresce com medo de se impor, com medo de não ser entendido e isso te faz não ser totalmente honesto com seus sentimentos e passa a ser vista como egoísta por pessoas que nem te conhece de verdade. 

Eu gosto de olhar para nossa foto, mas ultimamente estou tentando lembrar do seu beijo e isso me faz ter a leve sensação que tudo não passou de histórias que eu criei, buscando um conto de fadas perfeito em que você chega e salva o meu coração cheio de traumas, mas você foi sumindo aos poucos e levando contigo as histórias malucas e os sorrisos bobos das nossas madrugadas. Se eu falar que estou com saudades, acredite.

Sabe quando a gente faz um machucado andando de bicicleta? Você gosta muito daquela bicicleta e nem liga muito quando ela te machuca na primeira vez, você se levanta e continua tentando, mas ela só te machuca, você até tenta novamente, se culpa por estar tão machucada e por não conseguir passar pelos obstáculos sem se machucar novamente, você cai, levanta, tenta seguir em frente e se culpa mais uma vez por não conseguir lidar com aquilo... Então você resolve deixar ela partir e prefere arrancar logo, de uma vez só, todos os curativos que tinha feito, é claro que todas as vezes que for tomar banho você vai se lembrar da ferida, você se questiona que poderia tentar consertar a bicicleta, mas ela é tão resistente que você prefere deixar ela quietinha e talvez alguém melhor que você consiga se machucar menos.

Então você diz adeus, pega seu lápis e volta a escrever sobre um amor que não existe.